17 de abril de 2007

"ÊXODOS" do fotógrafo Sebastião Salgado para download

O conjunto de livros Êxodos - Programa Educacional Leituras, Narrativas e Novas Solidariedades do mundo Contemporâneo do fotojornalista brasileiro Sebastião SalgadoSescOnline. O site traz para os educadores um conjunto de sugestões para a apropriação pedagógica do rico material educativo oferecido pelo Programa Êxodos, baseado na obra de Sebastião Salgado.
está disponível para download através de uma ação educativa conjunta com o

Faça aqui o download de livros sobre o fotógrafo.


Leia abaixo trecho do livro sobre a vida e obra do fotógrafo Sebastião Salgado.

Se indagado o nome do maior fotógrafo brasileiro de todos os tempos, poucas pessoas ousarão responder um nome diferente de Sebastião Salgado. Se a pergunta admitir apenas os fotógrafos em atividade, de certo não restará dúvida. Esse mineiro de 63 anos (08 de Fevereiro de 1944, Aimorés, MG), doutor em economia, casado, pai de dois filhos, fotógrafo profissional há menos de três décadas, tornou-se unanimidade internacional.

Definitivamente, a fotografia caiu como um raio sobre a cabeça de Salgado. Diferente de Cartier-Bresson, que já manuseava câmeras fotográficas desde a tenra infância e seguia os caminhos das artes em ateliês de desenho e pintura, Salgado tirou seu primeiro retrato em 1971, aos 27 anos. Nessa ocasião, vivia em Paris com sua mulher, a arquiteta Lelia Wanick Salgado, que fora obrigada a comprar uma câmera Pentax para fotografar apartamentos. Seu marido "roubou-lhe" a câmera por um instante e tirou um retrato seu, sentada no parapeito da janela, em um dia de sol. Maravilhado com o resultado de sua imagem em contraluz, seguiria captando retratos da mulher e das crianças e trocaria o filme colorido pelo negativo em preto e branco. As imagens de cunho social que o deixaram famoso repetem, freqüentemente, a mesma iluminação contrária de sua primeira foto. Lelia afirma que o ex-economista não mais lhe devolveu a câmera, até comprar sua primeira Leica.

Salgado é outro adepto da marca alemã, repetindo a predileção de Cartier-Bresson. Usa, normalmente, três câmeras Leica, cada uma com uma lente diferente: uma 28 mm, uma 35 mm e uma 60 mm. Além desse pequeno arsenal, costuma carregar uma lente zoom, raramente utilizada, com a qual se distancia do objeto para fazer 2% a 3% de suas fotos. Usa negativos P&B da Kodak, principalmente o Tri-X, com ISO 400.

No lugarejo de 200 habitantes onde nasceu, perto da pequena Aimorés, cidade interiorana de Minas Gerais, não havia câmaras fotográficas. O pai era criador de gado em uma fazenda de 700 hectares, hoje propriedade do casal. Criança, passou 30 horas dentro de um trem para chegar à capital do Estado. A sofrida paisagem admirada à janela do vagão marcaria Salgado e estaria presente em um de seus primeiros ensaios fotográficos: os trabalhadores das indústrias do Vale do Aço, em Minas Gerais, recorrentes às margens de toda a estrada de ferro.

De Belo Horizonte, Salgado mudou-se para Vitória - ES, onde conheceu Lelia, completou o segundo grau e iniciou o curso de economia na Universidade Federal do Espírito Santo. A graduação só seria completada na Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo, onde obteve, também, o título de mestre. Não bastando, Salgado concluiu novo mestrado em economia na Universidade de Vanderbilt, nos Estados Unidos, e partiu para um doutorado na Universidade de Paris, junto com Lelia, doutoranda em arquitetura, no final dos anos 60.

Trabalhava para a Organização Internacional do Café, com sede em Londres, quando foi enviado para coordenar um projeto nas cafezais de Angola, em 1971. Daí, trouxe alguns rolos de filme fotografado e pediu demissão na empresa. Abandonou as planilhas e a calculadora e tornou-se fotógrafo em 73. Trabalhando como autônomo nos primeiros anos, Salgado passou pelas agências Gamma e Sigma entre 1975 e 1979. De 79 a 94, associou-se à agência Magnum e, em 94, fundou a Amazonas Images, em Paris, para produzir exclusivamente fotos de sua autoria. Com ele, trabalham sua mulher e três ou quatro auxiliares, responsáveis por grande parte do trabalho em laboratório, pelas ampliações e catalogações.

Durante todos esses anos, Salgado fotografou, no Brasil, os garimpeiros de Serra Pelada, os cortadores de cana do Nordeste, os poucos Yanomami que ainda sobrevivem no sul da Amazônia e os integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Fora daqui, documentou os andarilhos no deserto de Sahel, os flagelados pela fome e pela guerra civil em Ruanda e no Quênia, os refugiados de guerra no Irã, na Jordânia, na Bósnia, os trabalhadores de carvoarias, minas de carvão e de ferro, e camponeses de diversos cantos do mundo, os mexicanos que tentam ultrapassar a fronteira com os Estados Unidos, entre tantos outros temas marcadamente sociais.

Desde 1993, Salgado vem documentando o movimento migratório das populações de todo o mundo. Segundo ele, em 1985, 30 milhões de pessoas viviam fora de seus países de origem, número que aumentou para 130 milhões nos dias de hoje. São cerca de 10 milhões de novos emigrantes a cada ano, o que justifica a relevância do tema escolhido. A população mundial aumenta em 100 milhões de pessoas por ano (dez vezes a população de Portugal), dos quais 95% são nascidos em países em desenvolvimento, incapazes de lhes oferecer condições de vida dignas. O mundo chega ao ano 2000 com 6 bilhões de habitantes, o dobro da população do planeta em 1960, 40 anos atrás. Os movimentos populacionais realizados no interior de um mesmo país não são menos importantes e apresentam situação tão desalentadora quanto o movimento internacional. A cada ano, entre 40 e 50 milhões de pessoas dirigem-se às regiões urbanas de diversos países. Somente na década de 1990, há menos de dez anos, a maioria da população brasileira pôde ser flagrada habitando as cidades, trocando o campo por conglomerados urbanos cada vez mais inchados e caóticos. Os princípios resultantes dessas análises despertaram Salgado para algumas dezenas de reportagens, realizadas durante sete anos em 45 países. Uma pequena amostra do universo de milhares de imagens conservadas pelo fotógrafo pode ser observada na exposição Êxodos e nos dois livros que acompanham a exposição.

A visibilidade adquirida por Sebastião Salgado e alguns outros fotógrafos na imprensa nacional e internacional tem contribuído para um olhar diferenciado sobre esses fenômenos sociais. Nas palavras de Eduardo Galeano:

"Os retratos de Salgado oferecem um retrato múltiplo da dor humana. Ao mesmo tempo, convidam-nos a celebrar a dignidade humana. São de uma franqueza brutal essas imagens de fome e de pena, e, no entanto, têm respeito e pudor. Nada a ver com o turismo da miséria..."

Um comentário:

Geraldo Dias disse...

Prezado Sebastião Salgado,
Tive conhecimento do Projeto Êxodos, em um Programa de Formação de dirigentes da Confederação Nacional dos Metalúgicos/CUT em 1999 e com o kit em mãos, alimentei a idéia de pô-lo em prática com meus alunos da rede Estadual de Ensino em meu Estado (Pará). Estou no momento, atrás de recursos para colocar as fotos em molduras e viabilizar a exposição do projeto junto com meus alunos em nossa escola.
Ainda que tardiamente, quero parabenizá-lo pela sensibilidade e beleza do trabalho realizado.
Abraços,
Geraldo Dias
Prof. de Sociologia
Belém/Pará

Visite o site da Revista Intermídias